No universo da tecnologia atual, a Inteligência Artificial (IA) ocupa um espaço semelhante ao da mítica “Força” da série Star Wars, uma poderosa energia que pode ser manipulada tanto para o lado luminoso, promovendo o bem, quanto para o lado sombrio. Por isso, ao preparar este artigo em que reflito sobre as utilizações da IA pela indústria de pagamentos, sinto que devo deixar claro, logo no início, a importância de evitarmos as armadilhas de vilanizar uma tecnologia emergente. Usada de forma apropriada, essa ferramenta têm o potencial de impactar positivamente diversos setores econômicos.
Na frente de cibersegurança, a IA é uma ferramenta essencial para mapear fragilidades e elementos a serem corrigidos. Isso permite que as empresas possam contra-atacar de maneira mais eficaz, fortalecendo sua postura defensiva. Na Visa, o uso da IA no combate às fraudes e na melhoria dos pagamentos já soma três décadas. Em 1993, a empresa foi a primeira a implantar tecnologia baseada em inteligência artificial para gestão de riscos e fraudes. Nos último 10 anos, investimos mais de US$ 3 bilhão em IA e infraestrutura de dados visando uma movimentação mais segura e inteligente de dinheiro, além de prevenir fraudes de forma proativa.
Hoje, existem ferramentas de avaliação de riscos e fraudes que aplicam aprendizado de máquina avançado a dados históricos de transações para identificar padrões. Sistemas habilitados por IA trabalham para proteger todo o ecossistema de transações financeiras, detectando e prevenindo bilhões de dólares em tentativas de fraudes. Somente em 2022, a solução de monitoramento de fraudes em tempo real da Visa, Visa Advanced Authorization (VAA), ajudou a evitar cerca de US$ 27 bilhões em fraudes.
Os dados, a capacidade computacional e os sofisticados Modelos de Linguagem de Grande Escala (Large Language Models ou LLMs) de hoje nos colocam diante de uma nova era de possibilidades. A IA generativa já está transformando a forma como trabalhamos, como desenvolvemos e construímos novos produtos e serviços e como atendemos nossos clientes.
Mas apesar de seu potencial para o bem, há quem insista em utilizar a IA para fins sombrios, por isso, é importante trazer alguns alertas. Para os fraudadores, a disseminação da IA tem sido uma ferramenta poderosa para enganar os usuários. Um exemplo comum é o "phishing," no qual chatbots falsos se passam por instituições confiáveis, como bancos, serviços online ou atendimento ao cliente, para obter informações sensíveis, como senhas, números de cartão de crédito e detalhes pessoais.
Outro exemplo é a manipulação por meio da engenharia social, na qual os fraudadores utilizam IA para persuadir os usuários a compartilhar informações pessoais ou realizar ações que normalmente não fariam. Os fraudadores também utilizam a IA para disseminar malware, propagar notícias falsas e promover golpes de investimento fraudulentos.
Essas práticas ilustram como os criminosos se adaptam às inovações tecnológicas para maximizar seus ganhos. É crucial para os consumidores estarem atentos à autenticidade das fontes e proteger suas informações pessoais. Também fica evidente a importância da indústria de pagamentos – e de todos que fazem parte dela – se comunicar com clareza com os clientes, deixando explícitas as maneiras como as interações acontecem.
Passada essa primeira onda de uso da IA para a captura de dados por meio de uma comunicação fraudulenta com o cliente, acredito que essas inteligências venham a ser usadas como agentes de infecção de computadores e celulares, afetando aplicativos. Por esse motivo, os provedores de acesso aos aplicativos também têm uma responsabilidade fundamental nesse cenário, exigindo revisões rigorosas dos aplicativos fornecidos em suas lojas.
A evolução tecnológica está em constante movimento, e os criminosos sempre tentarão explorar suas brechas. No entanto, a conscientização, a colaboração e o uso ético da IA podem ajudar a manter um ambiente financeiro mais seguro e eficiente para todos. É fundamental reconhecer que, com o avanço da tecnologia, as estratégias de combate à fraude devem evoluir em igual medida para proteger os consumidores e a integridade das transações financeiras.