É relativamente comum entre a população a percepção de que a ocorrência de fraudes no mundo online ocorram por fragilidades do próprio sistema que opera essas transações. Segundo um relatório divulgado em dezembro passado pela CheckPoint Research, o Brasil é um dos países que mais sofrem com ataques hackers. São mais de 1,5 mil incidentes por semana, com um aumento de 46% registrado no segundo trimestre de 2022.
A indústria tem trabalhado incansavelmente em um aprimoramento constante dos seus mecanismos e padrões de segurança, inibindo fraudes e, consequentemente, preservando a confiança de estabelecimentos comerciais e consumidores. Contudo, é necessária uma reflexão sobre o papel dos consumidores. Engana-se quem pensa que o golpista seja, necessariamente, um hacker com altíssimo conhecimento tecnológico.
Muitas vezes, o fraudador lança mão da influência e persuasão, com técnicas psicológicas de convencimento, para pressionar e manipular as pessoas. Sentimentos como ambição, medo e compaixão, por exemplo, são explorados por esses criminosos para fins escusos. Esse tipo de atuação tem até nome: engenharia social.
Vantagem Fácil
Temos visto relatos de muitos golpes que oferecem vantagem financeira mediante a utilização de meios de pagamento. Um exemplo é a postagem, em redes sociais, de vídeos alardeando uma determinada ‘falha’ no sistema de pagamento instantâneo dos bancos. Nessas gravações, o golpista explica que, ao enviar uma determinada quantia para o banco por meio da chave fornecida no vídeo, – que na verdade pertence à conta do fraudador – a pessoa receberá de volta o dobro da quantia. A ideia do golpista é ganhar a atenção do usuário com a possibilidade de se beneficiar financeiramente com essa possível ‘falha’.
Intrigada com a proposta, mas estimulada pelo desejo de levar alguma vantagem, a pessoa envia, como um teste inicialmente, valores baixos – R$10 ou R$20, por exemplo. Ao receber esses valores, o golpista percebe que “fisgou” uma vítima e chega a enviar de volta os valores em dobro.
Entusiasmada, a pessoa acaba aumentando os valores enviados até que, chegando a uma determinada quantia, o fraudador simplesmente para de retornar os valores em dobro.
Medo
Outra fraude que faz uso de técnicas de engenharia social para persuadir as vítimas é o chamado golpe do motoboy. Nesse caso, o objetivo dos golpistas é a captura do cartão do consumidor para a realização de transações. Simulando as vozes eletrônicas dos atendimentos bancários, os criminosos entram em contato com a vítima afirmando que seus dados bancários foram furtados tornando urgente a substituição do cartão.
Com medo, a pessoa acaba passando uma série de informações sobre a conta por telefone, inclusive a senha, e é orientada a entregar o seu cartão a um motoboy que será enviado ao seu endereço. Para aumentar o convencimento, os golpistas orientam a pessoa a cortar o cartão ao meio sem danificar o chip pois, segundo a narrativa deles, esse chip precisará ser inutilizado pela própria instituição bancária.
Tomada pelo pânico de ter seus dados furtados, a vítima se torna uma presa fácil dos criminosos, seguindo todas as orientações falsas que recebe. Ao final do golpe, senha e chip do cartão estão de posse dos criminosos, que passam a realizar compras, saques e transferências. Segundo a Febraban, desde o período mais agudo da pandemia, ocorrências desse tipo de golpe subiram mais de 200%. O estado emocional fragilizado da população durante o surto da Covid-19 pode, em parte, explicar esse crescimento.
Prevenção
Tramita no Congresso Nacional um projeto de lei que prevê o combate contundente às chamadas Fake News. No bojo das discussões, está previsto coibir os golpes por meio de anúncios e vídeos falsos em redes sociais. Porém, diante da criatividade perversa e aparentemente ilimitada dos criminosos, cabe orientar:
- Proteja seus dados pessoais e bancários;
- Desconfie de promessas mirabolantes de ganhos financeiros fáceis;
- Se receber um telefonema suspeito relacionado às suas movimentações bancárias, tenha calma, desligue e entre em contato com o número oficial informado no cartão;
- No caso das empresas, façam uso da criptografia e backup de dados para evitar golpes como o ransonware e extortionware.
Esses cuidados tornam-se ainda mais relevantes pela dificuldade de reparação financeira da vítima, imposta por esse tipo de crime, uma vez consumado o golpe. Não são raros os casos em que não acontece o reembolso, já que a vítima não foi cuidadosa em relação ao sigilo dos seus dados. No caso dos crimes que apelam para vantagens financeiras, vale ainda lembrar que há uma postura ética a ser seguida pelos consumidores, o que evitaria esses tipos de golpe.
O aprimoramento das leis e ferramentas de segurança das transações financeiras precisa somar-se ao comportamento consciente dos consumidores, que devem sempre priorizar a cautela e tentar avaliar o risco de “pegadinhas” financeiras com serenidade emocional, reduzindo assim circunstâncias potencialmente perigosas em suas transações.