O que vem primeiro, a emissão ou a aceitação?
Inspirado pelo famoso dilema “quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha?”, trago para vocês a seguinte questão: o que é mais importante para a expansão do uso dos meios eletrônicos de pagamento, a emissão ou a aceitação?
Embora uma não exista sem a outra, descobrimos recentemente que a aceitação pesa três vezes mais que a emissão no Brasil para o avanço dos pagamentos digitais. Esse dado surgiu do “Índice de Maturidade para Pagamentos Digitais”, da Visa Consulting & Analytics (VCA), que mapeou e diagnosticou o grau de desenvolvimento dos pagamentos eletrônicos de todos os municípios do País. Ou seja, se queremos levar os benefícios de pagamento eletrônico para todo o Brasil, devemos investir cada vez mais no parque de aceitação.
Em parte, isso é explicado pela avançada bancarização dos brasileiros. Em geral, todos que possuem conta bancária recebem ao menos um cartão de débito, o que acaba por deixar a questão da emissão mais adiantada. E o que é um bom índice de emissão por habitante? Pelos nossos cálculos e metodologia, as cidades brasileiras com um bom indicador de emissão têm uma proporção de 2.500 cartões para cada 10.000 habitantes.
O mesmo estudo mostra que, quando o assunto é aceitação, uma cidade com um bom indicador teria 276 maquininhas de cartão (POS) para cada 10.000 habitantes. Em cidades com baixo índice de aceitação, esse número fica em 32 máquinas a cada 10.000 habitantes. Mas não é apenas uma questão de número de POS. A diversidade de categorias de segmentos comerciais que aceitam pagamentos eletrônicos em uma cidade também afeta a aceitação e, consequentemente, o comportamento digital da população. Se o consumidor percebe que pode pagar eletronicamente por todas as suas compras e serviços nos estabelecimentos comerciais, rapidamente deixa de utilizar o dinheiro em espécie e passa a carregar somente o cartão.
Dentro dessa equação entre emissão e aceitação ainda existe uma dimensão extremamente importante - até mais do que as duas citadas: a infraestrutura. Isso porque sem acesso à banda larga ou a frente de caixas eletrônicas, o ecossistema de pagamentos digitais não consegue se desenvolver. E, por meio do estudo, notamos que mais de 37% das cidades brasileiras têm problemas básicos de infraestrutura.
Essas e outras descobertas foram possíveis graças à consolidação de mais de 300 variáveis. O levantamento levou em conta informações como número de cartões por habitante; transações de débito e de crédito; quantidade de caixas eletrônicos; número de agências bancárias; acessos em banda larga; dados de maquininhas de pagamento por habitante e por quilômetro quadrado, PIB; IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) e informações populacionais e educacionais.
Resumindo: diria que para aumentar o uso dos pagamentos eletrônicos é preciso investir mais na aceitação. E vejo que isso tem crescido cada vez mais com a chegada de novos players e formatos no mercado. Isso não significa que a emissão não seja importante, pelo contrário. Em paralelo ao investimento em ampliar o número de POS nas cidades, deve-se também continuar investindo na emissão de cartão ou qualquer dispositivo de pagamento, seja ele crédito, débito ou pré-pago. Será investindo nos dois lados de forma integrada que conseguiremos levar às mais diferentes cidades os benefícios do pagamento eletrônico. Com o aumento do uso, emissão e aceitação de meios eletrônicos de pagamento, esperamos contribuir para o desenvolvimento tecnológico, aumento da inclusão financeira e digital da população, além de ajudar a diminuir gastos operacionais e com segurança, decorrentes do uso do dinheiro em espécie. Vamos juntos fazer uma verdadeira transformação no País.