Conta-se que, no século passado, a indústria pesqueira japonesa se viu com um problema: os peixes estavam cada vez mais distantes da costa. Era preciso, então, construir embarcações maiores e viajar por dias para ter acesso aos grandes cardumes para alimentar uma cultura que utiliza pescados como ingrediente básico de toda culinária.
A importância do tubarão no tanque nas empresas
Por Fernando Teles, Country Manager da Visa do Brasil
As viagens foram realizadas e os peixes foram encontrados novamente, mas um novo desafio surgiu. Com os dias de viagem, o alimento já não estava mais fresco e deixava de ser atrativo às famílias japonesas. A solução foi construir navios ainda maiores e colocar tanques dentro dos contêineres para que os peixes chegassem vivos à costa. Não deu certo. Os peixes estavam frescos, mas o gosto não era dos melhores. Descobriu-se então que, nos tanques, com comida à vontade e sem predadores naturais, esses peixes ficavam parados, preguiçosos e inertes, o que impactava diretamente no sabor de sua carne.
Foi aí que decidiram colocar pequenos tubarões nesses tanques, para que os peixes se sentissem ameaçados e se movimentassem constantemente em busca de sobrevivência durante a viagem. Alguns poucos morriam no trajeto, mas o sabor e frescor estavam de volta e os consumidores voltaram a consumir o alimento para a felicidade dos pescadores. A história, que sempre levo comigo em minha jornada, aconteceu do outro lado do mundo, mas se transformou em uma excelente metáfora para o mundo corporativo em qualquer país. As empresas, principalmente as líderes de mercado, precisam permanentemente de tubarões no tanque.
No mundo digital e mutante em que vivemos, ser o líder de mercado não é sinal de segurança. A qualquer momento, um novo serviço com um formato mais moderno e mais conectado pode surgir e acabar com séculos de tradição e de liderança. Basta ver exemplos de serviços digitais como Uber, Spotify e Netflix. Cada uma do seu jeito transformou a forma como as pessoas dialogam com transportes, músicas e filmes. Ter o market share de um setor não significa mais ser o protagonista dessa indústria. E todos nós queremos ser protagonistas.
A metáfora do tubarão se faz muito atual. Grandes corporações se apoiam na ilusória prerrogativa de que estar líder assegura vida longa e próspera. Não existe mais isso. É preciso se reinventar o tempo todo e estar aberto ao diálogo. É por isso que estamos trabalhando cada vez mais de forma cocriativa aqui na Visa, com fintechs, desenvolvedores, bancos, estabelecimentos comerciais, fornecedores, parceiros tecnológicos, funcionários e qualquer outra parte interessada – sem qualquer hierarquia – para construir a nova indústria de pagamentos.
Para se ter uma ideia do que é essa transformação dentro da Visa, em fevereiro deste ano, pela primeira vez, em mais de 50 anos de história da empresa, abrimos a nossa rede. Nossa equipe transformou produtos e serviços nos chamados APIs, uma tecnologia padrão usada por desenvolvedores para construir softwares e aplicativos. Isso quer dizer que nossos clientes e parceiros podem escolher algumas de nossas soluções para desenvolverem novas soluções. Muitas empresas já estão criando protótipos de pagamento usando nossa tecnologia e os brasileiros já ocupam a segunda posição dos países que mais acessam nossas APIs, atrás apenas dos EUA.
E nossa batalha de transformação está apenas começando. Hoje, somos líderes com 3,1 bilhões de cartões no mundo e estamos em um mercado com mais de 50 bilhões de oportunidades – números da Cisco – sobre o total de dispositivos que serão impactados com a Internet das Coisas até 2020 (Bloomberg, janeiro de 2014). Nossos serviços passarão por geladeiras, TVs, carros e outros dispositivos, ultrapassando os limites do plástico, como jávemos hoje com as tecnologias que empregamos em pulseiras, anéis, relógios e celulares.
Estamos nos preparando para esse desafio, mas precisamos, neste momento, de pessoas com vontade de promover as mudanças necessárias. Por isso que mudar para melhor é a minha missão como country manager da Visa, mas, mais do que isso, quero ver surgirem agentes de mudança. E acredito que este seja o maior desafio das grandes empresas: saírem da inércia e transformarem seus funcionários em novos tubarões dentro do tanque.
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