Saúde mental em tempos de quarentena
Por conta do isolamento social, medida adotada no mundo todo para evitar a propagação da doença, muitas empresas adotaram a prática de home office. Trabalhar de casa, porém, trouxe novos desafios para os profissionais.
Para diminuir a distância e ficar lado a lado dos seus colaboradores neste momento, mesmo que de forma virtual, a Visa está promovendo encontros online para abordar temas relacionados à saúde mental como sensações e emoções durante o período da quarentena, relação diferenciada com o tempo, orientações e hábitos para a qualidade de vida pessoal e profissional, e aprendizados e perspectivas para o futuro.
Os encontros são coordenados pelo médico psiquiatra Luís Costa, que acumula larga experiência em saúde mental. Formado em Medicina pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), com especialização em Psiquiatria pela PUC-SP e Psicoterapia pelo COGEAE, também da PUC-SP, ele trabalha como psiquiatra no Hospital Israelita Albert Einstein e como coordenador da Equipe de Retaguarda e Ambulatório do Hospital Sepaco. Confira o bate-papo com o médico psiquiatra Luís Costa para entender esse novo mundo que bate à porta:
1. Qual a importância das empresas promoverem iniciativas voltadas para a saúde mental dos seus colaboradores durante o isolamento provocado pela pandemia?
A pandemia atual representa um momento histórico e singular. A última ocasião em que algo similar ocorreu foi há aproximadamente 100 anos, na chamada “gripe espanhola”, que também provocou isolamento social e quarentena. Essas técnicas de resposta urgente em saúde, como, por exemplo, o isolamento social, podem gerar uma sensação de descontrole, medo e insegurança na maioria dos colaboradores, que deve ser abordada de forma correta e precisa. Isto provavelmente diminui a chance de sofrimento emocional no presente e no futuro próximo.
2. Quais iniciativas as empresas podem desenvolver durante o período de isolamento social?
É importante promover encontros virtuais por meio de videoconferências para que os colaboradores possam falar sobre seus sentimentos e emoções. Esta é uma maneira simples e eficaz que pode trazer alívio e bem-estar. Também acredito que é bastante interessante implementar um programa de vigilância emocional periódico pela empresa, que pode ser quinzenal ou mensal, como, por exemplo um "Ambulatório do Bem-Estar", com o objetivo de direcionar os colaboradores para ajuda médica e psicoterápica. Esta iniciativa é bem-vinda como uma medida de caráter profilático para casos de burnout ou esgotamento profissional para o cenário atual e futuro.
3. Quais dicas são indicadas para preservar a saúde mental dos profissionais que estão trabalhando em casa durante a quarentena?
Acredito que é interessante manter bons hábitos diários como controlar os horários de sono, vigília e refeições, o que auxilia na perpetuação da rotina de cada pessoa. É fundamental manter contato com a família e os amigos, mesmo que virtualmente, além de reservar momentos particulares de prazer como ler um livro ou ouvir música. É ainda importante tomar banho de sol pela manhã através da janela ou na varanda, bem como manter uma alimentação equilibrada e saudável, evitando o excesso de alimentos gordurosos, doces e bebidas alcóolicas. Também é aconselhável evitar a superexposição aos noticiários, escolhendo somente um horário ao dia para atualizações das notícias de uma fonte confiável. Para aqueles que já fazem acompanhamento médico ou psicoterápico, é vital manter a regularidade do tratamento clínico, especialmente nos casos em que há uso de medicamentos.
4. Quais sinais indicam o momento de procurar a ajuda médica ou psicológica?
É importante ficar atento às mudanças súbitas no comportamento habitual em relação ao apetite, energia, humor, afetividade ou sono, em que a pessoa pode deixar de se alimentar, ter horas de sono a mais ou a menos, sentir esgotamento ou ainda apresentar, na maior parte dos dias e de forma aguda, ansiedade acompanhada de palpitações, suor frio, formigamentos, sensação de opressão no peito ou na garganta ou até mesmo sensação recorrente de pânico. Nesses casos, é indicado a procura por auxílio médico. Se as mudanças forem de pouca magnitude e restritas ao campo emocional e mental, o encaminhamento para a psicoterapia pode ser uma medida bastante útil, cujo atendimento pode ser realizado pelo psicólogo ou médico com formação em psicoterapia.
5. Quais os impactos que teremos como indivíduos e como sociedade ao fim da pandemia?
Se pensarmos nos impactos com viés negativo, do ponto de vista individual, possivelmente pode ocorrer um aumento na incidência de quadros mentais como depressão, ansiedade e estresse pós-traumático de forma mais disseminada. Já o impacto na sociedade deve ocorrer pela própria crise econômica, caos social e possibilidade de maior índice de desemprego. Porém, há impactos bastante positivos, que provavelmente provocarão mudanças em nossa sociedade, já que as pessoas dedicarão mais tempo às suas famílias e amigos, dando maior importância ao momento presente e às situações consideradas corriqueiras antes da pandemia. Talvez, tenhamos maior empatia com o outro, principalmente, daquele que precisa da nossa ajuda, e arrisco a dizer que os sensos de comunidade e civilidade estarão renovados ao fim da pandemia.
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