Inovação ou volição: juntas, elas podem transformar o mundo
A música sempre fez parte da minha vida. Formada pelo Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, minha mãe foi professora de piano por mais de quatro décadas. Autodidata, meu pai também era um grande entusiasta da música clássica.
Não por acaso, meu primeiro trabalho foi em uma loja de discos no centro de São Paulo, na década de 1980. Naquela época, os termos empreender e startup não faziam parte do meu repertório. Ali, no meu primeiro “escritório”, eu buscava apenas um lugar para passar o dia e conhecer mais do mundo que eu havia deixado de lado no tempo em que estive no quartel.
Uma satisfação parecida com a visão purista do personagem interpretado por Jack Black no filme “Alta Fidelidade”. O tempo passou, chegaram os CDs no fim dos anos 1980 e a história me roubou a ilusão de um jovem sonhador. Tive que avançar e correr atrás do chamado emprego de carteira assinada. Foi aí que entrei no mercado e comecei a trabalhar no mundo corporativo e, consequentemente, na indústria de meios de pagamentos.
Você deve estar se perguntando por que puxei essa memória para iniciar esta coluna. Bem, acho que o confinamento nos sensibiliza e nos leva a voltar ao passado em busca das verdadeiras raízes que nos sustentam em tempos de incertezas. Não falo aqui de um saudosismo gratuito, mas de dar um pause na vida e revisitar a história.
A loja onde comecei minha vida profissional não existe mais, assim como a maioria das lojas de vinil que eu tinha o hábito de frequentar. Os LPs e os CDs perderam espaço para os serviços de streaming. E meus pais não tocam mais instrumentos musicais.
Não pretendo explicar esse fenômeno, mas apontar para algumas direções que me parecem reveladoras. Em momentos de mudança extrema, como a que estamos enfrentando, nossa indústria de pagamentos tem se mostrado resiliente, sólida e solidária, apesar de algumas vezes caminhar mais lenta do que gostaríamos.
É hora de deixar um pouco de lado a inovação e colocar no centro da discussão a volição, ou seja, a vontade de decidir em prol de uma causa ou ação. Vou além na definição dessa palavra crucial para o período atual. Quer dizer: não se conformar com o fato de estarmos confinados e, mesmo assim, seguir adiante.
Em termos práticos, a indústria de pagamentos se comporta hoje exatamente dessa maneira - fornece alternativas e tecnologias que permitem o consumo para a sociedade, empresas e governos, além de viabilizar e incentivar formas de doações, estimulando a filantropia corporativa.
Recentemente, fomos testemunhas de várias ações que certamente nos fazem pensar em um mundo melhor daqui pra frente. Trata-se de um movimento do bem que ganha corpo graças às parcerias com empresas e pessoas que têm sede de volição.
E aí eu lanço uma provocação: será que inovação deveria ser apenas uma teia tecnológica ou podemos transformá-la em algo muito mais poderoso, uma verdadeira rede de conexões envolvendo pessoas que olham além do confinamento, à frente do que os profetas chamam de “novo normal”?
Em constante movimento
Tecnologias como NFC (Near Field Communication), que permitem o pagamento por aproximação, evitando o contato físico, precisam continuar sendo aceleradas pela iniciativa privada e incentivadas pelo governo. Além de trazer vantagens como conveniência, segurança e roadmap tecnológico, estamos avançando e ajudando novos segmentos.
As transações no transporte público e nos pedágios nos dão um bom exemplo. Oferecemos à sociedade uma nova forma de pagamento por aproximação nos metrôs do Rio de Janeiro e em linhas de ônibus de São Paulo. Enquanto você lê este texto, a indústria conversa sobre a possibilidade de aumentar o limite de autenticação do consumidor acima de 50 reais, sem que isso acarrete qualquer prejuízo para as instituições de pagamento e os estabelecimentos comerciais. Mais de 25 países no mundo já tomaram essa decisão – o Brasil não pode ficar para trás.
Outro ponto de atenção diz respeito ao 3DS 2.0. Precisamos abraçar definitivamente esse novo padrão de autenticação. Ainda que delicada, a discussão sobre o liability shift não pode ser comprometida em razão de datas avançadas de implementação ou negociada sem a participação das grandes instituições de pagamento e varejistas. Sabemos que o protocolo não será a única ferramenta contra fraudes, mas, combinada à tokenização (assunto que eu já abordei em colunas anteriores), essa solução lança uma nova perspectiva de segurança e de novos negócios, como assinaturas online.
Por fim, vale destacar o grande estreante do ano: as transferências de fundos entre pessoas e estabelecimentos comerciais. Embora essa modalidade não seja fruto de um processo de inovação – já que TED, DOC e pagamentos por cartão já existem há um bom tempo – há alta dose de volição em buscar alternativas contextualizadas em um mundo em constante mudança. Talvez a história me roube mais algum capítulo, mas enquanto volição + inovação caminharem juntas, não temos o que temer. Vamos seguir produzindo.
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