1. Infraestrutura que promova o amplo acesso
Desenvolvida originalmente por outras razões, a infraestrutura de comunicação construída ao longo de décadas provou-se crítica para apoiar a mudança para o meio digital após a desmonetização. Investimentos públicos e privados apoiaram a tecnologia móvel e um sistema nacional de identificação. Esses e outros investimentos realizados ao longo de décadas foram cruciais para possibilitar a rápida adoção de capacidades de pagamento digital e absorver o aumento súbito no volume após a desmonetização.
2. Colaboração público-privada
A colaboração entre o governo e os stakeholders da indústria ajudou a promover a rápida adoção dos pagamentos digitais após a desmonetização. Por exemplo, a colaboração entre stakeholders do setor público e privado resultou na criação de um padrão de QR comum e interoperável conhecido como QR Bharat, um meio barato e conveniente de aceitar pagamentos móveis, e lançou as bases para uma experiência de aceitação de pagamento superior nos estabelecimentos comerciais. Outros exemplos de colaboração para expandir os pagamentos digitais são a parceria da Visa com o Governo Estadual de Andhra Pradesh para digitalizar a cidade de Vishakhapatnam (Vizag), um esforço para ajudar a realizar a visão digital nacional do governo indiano. A iniciativa privada também contribuiu filiando estabelecimentos comerciais ao novo padrão de QR Code, na educação dos consumidores e em marketing para promover os pagamentos eletrônicos.
3. Normas e Políticas
Algumas normas e políticas públicas também contribuíram para acelerar a migração para os pagamentos digitais. O Banco Central da Índia ( Reserve Bank of India ou RBI) tem trabalhado desde 2001 para estabelecer um sistema de pagamento seguro. Políticas mais recentes, como diretrizes que apoiaram a emergência das carteiras móveis e criaram um ambiente igualitário também tiveram por objetivo estimular a concorrência. Além disso, o governo lançou incentivos para aumentar o uso e a aceitação dos pagamentos digitais. De modo geral, políticas para garantir um ambiente aberto e igualitário são mais eficazes para apoiar os pagamentos digitais, e diálogos transparentes com stakeholders da indústria durante o processo de formulação de políticas ajudam os governos a atingir esse objetivo.
4. Comunicação e campanhas para os cidadãos
O governo indiano comunicou amplamente suas razões para a desmonetização, o que ajudou a angariar o apoio da população para a iniciativa. A narrativa ajudou o cidadão a entender os benefícios de longo prazo projetados para a desmonetização. Campanhas educativas e promocionais realizadas pelo setor privado e público ajudaram a população a se acostumar a pagar com meios digitais, em vez de dinheiro em papel. Esses esforços foram especialmente críticos em um mercado onde o dinheiro respondeu por 85% dos gastos pessoais dos consumidores em 2016.
5. Adoção governamental
O governo tem um papel importante no estímulo à adoção de pagamentos digitais e no reforço ao abandono do uso de dinheiro. Ao aceitarem pagamentos digitais, os governos criam um caminho para o consumidor adquirir o hábito de usar esses métodos em ambientes confiáveis; com isso, ele fica mais disposto a aumentar o uso de métodos alternativos ao dinheiro. Os esforços ativos do governo indiano para promover a adoção dos pagamentos digitais nas esferas federal, estadual e local após a desmonetização serviram de exemplo para consumidores, estabelecimentos comerciais e outros.
Acho que ficou claro a importância de campanhas educacionais e principalmente de parcerias entre iniciativas públicas e privadas para o sucesso da ação, mas e no Brasil? Como podemos aprender com o case da Índia? Pouca gente sabe, mas, segundo dados da ABECS, apenas cerca de 32% dos pagamentos no País são eletrônicos. Ou seja, o desafio para educar e fazer a migração do dinheiro em papel para formatos mais modernos e seguros é grande, porém recompensador. Isso é o que mostra outro estudo nosso: o “Cidades sem dinheiro em espécie: Compreendendo os benefícios dos pagamentos digitais”.
O relatório exclusivo quantifica os potenciais benefícios experimentados pelas cidades que migram para um nível elevado de uso de pagamentos digitais. O estudo desmistifica a ideia de que o dinheiro em espécie não tem custo. No fim das contas, todos pagam pelo uso do papel, dos consumidores às empresas e aos governos. Na cadeia de custos com as transações em dinheiro, aparentemente invisível, estão as despesas com as transações bancárias, segurança e transporte, nas quais as corporações gastam, em média, 2% de sua receita por mês com o recebimento de pagamentos não digitais. Em São Paulo, essa percentagem aumenta para 3%. Com roubos, desfalques e falsificações, as empresas perdem o equivalente a 4% de suas receitas. Em cidades de mercados emergentes, pode chegar a 9%. Isso sem contar as despesas com pagamentos a fornecedores, custos de manuseio, contagem e processamento das notas.
As desvantagens do dinheiro em espécie aliadas aos inúmeros benefícios proporcionados pelos meios de pagamentos digitais tem feito com que muitos governos adotem tecnologias inteligentes e novas soluções de pagamentos. Índia foi apenas um exemplo, mas temos testemunhado iniciativas em países como China, Inglaterra, Austrália, entre outros. O Brasil já iniciou sua caminhada para fazer essa parcela ainda dominada pelo pagamento em papel perder espaço. O que nossa experiência global prova é que dado o primeiro passo, não há mais volta. A transformação digital é uma grande aliada nessa revolução e não vai demorar muito para que nosso País se torne o próximo case de sucesso em prol de uma sociedade mais segura, inclusiva financeiramente e digitalmente e próspera.